A série que chegou ao catálogo do canal de streaming Disney+ no último dia 05 de julho, “Kizazi Moto: Geração Fogo” enaltece culturas africanas, foi totalmente dirigida por artistas negros, provenientes daquele continente. Tendo sua estreia sem chamar muita atenção, os 10 episódios, de aproximadamente 15 minutos, misturam várias técnicas de animação com artes que tentam retratar com fidelidade culturas de vários países do continente africano.
Com ótimas aventuras e ficção científica baseada em afrofuturismo, a antologia contou com mais de 10 diretores, de pelo menos 6 países diferentes. Entre eles, Egito, África do Sul, Quênia, Nigéria e Zimbábue. A produção executiva ficou a cargo do oscarizado Peter Ramsey, premiado por “Homem-Aranha no Aranhaverso” (2018).
“Geração do Fogo”
Com seu título derivando da frase “kizazi cha moto”, da língua suaíli, o título da série animada faz um trocadilho com a tradução: literalmente “geração do fogo”. Ou seja, o subtítulo da produção é quase uma tradução literal de seu título principal. A sacada aqui está na palavra “moto”, que significa “fogo” em diversos países africanos. Tendayi Nyeke, uma das produtoras da série, explicou ao Disney Official Fan Club que a intenção era “demonstrar o espírito panafricano incorporado na antologia.”
O resultado foi positivo. Os episódios misturam não apenas tecnologia à cultura africana, como também trazem elementos religiosos e folclóricos, imaginando uma África que não foi colonizada por estrangeiros. Muito dessa inspiração é percebida nas cores e nos visuais, baseados em vestimentas típicas e em populações específicas dos locais onde as histórias se passam.
Sem falar no sotaque gostoso dos personagens! Resultado do impecável trabalho de voz de atrizes como Florence Kasumba (Wakanda Para Sempre – 2022) e Lillian Dube (Inestimável – 2022), além dos rappers Nasty C e Gigi Lamayne, entre muitas outras vozes.
Mas o que é o “afrofuturismo”?
Em termos simples, o afrofuturismo é uma arte que pensa um futuro tecnológico para as populações africanas (ou provenientes dela) com um olhar diferente do olhar “colonizador”. Um movimento cultural que usa estéticas e filosofias africanos misturados à ficção científica, fantasia, ficção histórica, mitologias e arte africana e dos povos que foram dispersados daquele continente.
Talvez o exemplo mais popular da atualidade sejam os filmes do super-herói Pantera Negra, da Marvel. Neles, podemos observar uma realidade tecnológica, futurista, repleta de elementos de ficção científica. Ainda assim, sua estética não perde de vista as culturas africanas, representadas nesta obra pelas suas tribos originais, suas vestimentas e seus elementos culturais. Ainda que seja uma obra pensada pelo cinema americano, toda a produção do filme Pantera Negra (2018) foi composta por pessoas negras: pesquisadores, roteiristas, figurino, direção… Isso sem falar no elenco.
Vale ressaltar aqui que, apesar de estar atualmente em alta, o movimento não é recente. Ele pode ter surgido na década de 1950 e foi amplamente explorado na década de 1990. O afrofuturismo também aparece em trabalhos de artistas recentes da música, como Rihanna e Beyoncé.
O que esperar de Kizazi Moto?
Para quem gosta de animações aventurescas e não tem receio de arriscar novas fórmulas, Kizazi Moto pode ser uma ótima pedida. Não apenas por nos apresentar histórias cativantes e personagens ultra carismáticos, mas também por dar a oportunidade de experimentar histórias contadas por uma ótica que, talvez, não estejamos tão acostumados.
“Geração Fogo” nos entrega uma viagem por diferentes culturas, modos de falar e de pensar o mundo. Seus episódios, curtinhos, podem ser apreciados em uma tarde ou duas. Cada um deles é feito usando uma técnica própria de animação e possui características únicas. E, mesmo em seus poucos 15 minutos de duração, são capazes de provocar alguns saltos de tensão em quem os assiste.
Apesar da baixa repercussão, a série acumula 100% de aprovação da crítica especializada no Rotten Tomatoes e 97% de aprovação do público. No IMDB, sua nota está em 7,3/10 enquanto escrevo este artigo.