Parece que depois de anos produzindo filmes de super-heróis (ou, como a internet apelidou, “filmes de bonecos”), Hollywood resolveu se aventurar contando a história de uma boneca. E não poderia ter começado de um jeito melhor: dirigido por Greta Gerwig (do premiado Lady Bird: A Hora de Voar – 2017), “Barbie” traz Margot Robbie no papel principal e, acompanhada de seu eterno parceiro, Ken (Ryan Gosling), a boneca faz uma viagem ao mundo real para descobrir que as coisas não funcionam da mesma maneira que em seu mundo de fantasia.
Na “Barbilândia” tudo opera perfeitamente bem, ao menos para as Barbies. Conhecemos um lugar onde as bonecas (todas, logicamente, apresentadas para o público como mulheres reais) não precisam se preocupar com dias ruins: seus cabelos estão sempre lindos, faz sempre sol, todas se conhecem e são melhores amigas umas das outras. E, detalhe, seus calcanhares não tocam o chão.
A vida só não parece ser muito feliz para seu namorado, Ken. O companheiro da Barbie é relegado a ser para sempre seu coadjuvante. Ninguém sabe onde ele mora exatamente, mas, ninguém se importa. E ele está sempre em disputa com seu rival, outro boneco Ken (Simu Liu), que compete com ele pela atenção da Barbie. Além disso, todas as noites são sempre “a noite das garotas”. Para sempre e sempre.
Não é apenas um filme de boneca
Tudo parecia perfeito até que Barbie percebe que deve estar com defeito. Para resolver isso é necessário que ela venha até o mundo real e encontre sua dona. Somente quando a criança que brinca com ela voltar a ser feliz, ela estará consertada e tudo voltará ao normal.
Infelizmente, ao chegar no mundo “de verdade” ela percebe o real sentido da expressão “mundo dos homens”. Em uma cena que lembrou muito o filme Mulher-Maravilha – 2017, a loira descobre que não são as figuras femininas quem têm destaque no cotidiano mundano. Ela se sente invadida pelos olhares maliciosos e frases de duplo sentido lançadas à ela enquanto anda de patins. Não fosse pouco, Barbie sofre um choque de realidade sobre como ela é vista pelas garotas quando encontra aquela que seria sua suposta dona.
Sasha (Ariana Greenblatt) explica para a mulher, que está vestida como uma cowgirl – e que ela considera fora de si por se autointitular como uma boneca viva – que Barbie, na verdade, é a materialização do capitalismo e causa de opressão e sofrimento para várias garotas ao redor do mundo por popularizar uma beleza impossível e padrões de estética inalcançáveis.
Por outro lado, para Ken, o “mundo dos homens” mais parece um paraíso. Enquanto Barbie se sentia assediada, ele se sentia admirado. Ele descobriu que aqui são os homens que ocupam posições de poder. Eles são admirados, referenciados, tudo é feito por eles e para eles. Aqui, ele é protagonista.
Ou seja: as coisas do mundo afetam de maneiras diferentes Barbie e Ken, ambos acostumados a ocuparem posições bem definidas em sua origem, um lugar fantasioso onde as mulheres são os seres dominantes.
Uma forte mensagem sobre equidade
“Barbie”, em suma, é uma comédia. O filme nos proporciona ótimas risadas. No entanto, seu texto é certeiro e não tem meias palavras: não importa quem esteja no poder, se não estivermos em um ambiente de igualdade, o conflito acontecerá, cedo ou tarde. Sua mensagem não é sobre dominação, é sobre a importância que cada um tem quando desempenha seu próprio papel e de como devemos valorizar essa individualidade.
Tendo muitas outras camadas (o filme ainda pincela os tipos de masculinidade, relações afetivas, maternais, disforia corporal, a beleza do envelhecimento e a procura pela perfeição), Barbie não é apenas um filme de boneca. Ele traz uma reflexão preciosa sobre a busca do “eu” e sobre como podemos nos reconhecer no mundo e nos conectarmos com os outros sem que isso configure uma relação de codependência.
A jornada da boneca nos faz encarar a realidade deturpada que nós vivemos, onde a pressão social sobre o que é ser mulher coloca as pessoas em situações completamente paradoxais. E num momento do mais puro ímpeto o filme joga todas as cartas na mesa, para que não sobre nenhum mal-entendido. Ao que parece, é muito difícil ser mulher num mundo em que não se pode ser menos que perfeita. Até a Barbie se sente feia!
Mas, afinal, Barbie é um filme para crianças?
Bom, segundo o CONAR (Conselho Nacional de Autorregulação Publicitária), não, “Barbie” não é um filme para crianças. O conselho indicou o filme para maiores de 12 anos considerando que algumas cenas não são próprias para os menores, já que podem conter atos violentos e diálogos com teor adulto. Nos EUA o filme foi classificado como PG-13, que libera entrada apenas para maiores de 13 anos, ou menores, desde que estejam acompanhados pelos responsáveis.
Barbie completa 64 anos em 2023
Só para o caso de você não saber, a boneca Barbie foi lançada em 1959 e seu primeiro modelo custava US$ 13,00. Seu nome é uma abreviação de “Barbara”, filha de Ruth Handler, criadora da boneca, junto com seu marido. Ruth, inclusive, aparece no filme. Já o namorado Ken foi criado 2 anos depois, em 1961 e também carrega o nome de um dos filhos do casal, “Kenneth”, que veio a falecer em decorrência de um tumor no cérebro.
Ao contrário de seu manequim, os números que circulam a boneca não são pequenos. Ela já teve mais de 100 profissões e até já se candidatou à presidência. Sua marca chega a faturar em torno de US$ 3 bilhões por ano ao redor do mundo. A estimativa é que pelo menos 2 bonecas Barbie sejam vendidas a cada segundo pelo globo. Sua peça mais cara foi arrematada pela bagatela de US$ 302.000,00.
Já o filme que conta com Barbie como protagonista, estreia dia 20 de julho de 2023 e tem um elenco bastante estrelado. Além de Margot Robbie, Ryan Gosling e Simu Liu, figuram os atores Kingsley Ben-Adir, de Invasão Secreta e do vindouro Bob Marley: One Love, e os colegas Emma Mackey, Ncuti Gatwa e Connor Swindells, todos do seriado da Netflix, Sex Education.