O serviço de streaming Star+ estreou no último dia 12 de julho a série documental que conta a história do famoso grupo infantil dos anos 1980: o Balão Mágico. O especial reúne os quatro integrantes originais: Simony, Tob, Mike e Jairzinho, além de produtores, diretores, familiares e artistas que trabalharam junto ao grupo.
Com cenas que alternam entre depoimentos, arquivos pessoais e uma conversa entre os componentes, somos levados de volta ao início da década de 80 para reviver a formação, o auge e o encerramento do grupo musical que, no momento máximo de sua fama, ganhou um programa diário na TV Globo.
Porém, a história do Balão Mágico não é contada apenas com recordações positivas. Algumas falas revelam mágoas dos entrevistados. Há relatos que são desmentidos, outros rebatidos e traumas são trazidos à tona. Alguns dos convidados chegam às lagrimas enquanto falam, relembrando momentos difíceis daquela época.
Uma maravilhosa viagem no tempo
Entre os principais entrevistados da minissérie, além do corpo de equipe que trabalhou para a construção do grupo, também estão os atores Lázaro Ramos que dirigiu Medida Provisória (2020) e atuou em Ó Paí, Ó (2007) e Rodrigo Fagundes que esteve em filmes como Zuzu Angel (2006), mas que você deve conhecer, principalmente, de Zorra Total (1999 – 2015). São eles que fazem a ponte que liga o sucesso da Turma do Balão ao público. Lázaro e Rodrigo aparecem como um espelho dos fãs, que assistiam de casa os programas matinais e consumiam os discos do Balão.
Lázaro tem como foco a visão da representatividade negra. É em seus relatos que percebemos a importância da presença de Jairzinho (última criança a entrar na formação principal) para as crianças negras da época, que pouco se viam nas telas da TV. O ator reforça o quanto o grupo musical, do qual já gostava antes, passou se tornar realmente “mágico” depois da presença de uma criança com a qual ele se identificava. Suas falas são das mais emocionantes dos episódios.
Já Rodrigo é perceptivelmente um colecionador. Basta uma olhada um pouco mais atenta ao cenário da entrevista para perceber a quantidade de coisas que fazem referência à década de 80.
Coisas que sabemos, mas, preferimos fingir que não existem
Não precisa pensar demais para imaginar que onde existem crianças famosas e lucro por conta dessa fama, existe, também, exploração infantil. Os casos são praticamente infinitos e eu não vou gastar nosso tempo elencando eles aqui. Com a Turma do Balão Mágico não foi diferente.
Depois do momento nostalgia, o documentário foca em como as crianças encaravam o trabalho. Não demora para o encantamento se transformar em um conjunto de traumas acumulados. Junto a isso, uma porção de dúvidas relacionadas a quem administrava e, principalmente, quem embolsava o dinheiro que era ganho. Isso somado às horas excessivas de trabalho (chegando até 18 hrs seguidas em um único dia) e ao constrangimento de ser tratado como adulto pela direção do programa.
Em um momento que é, ao mesmo tempo, emocionante e constrangedor, Tob chora diante das câmeras lembrando do episódio onde o ator Orival Pessini (1944 – 2016), que deu vida ao Fofão, perdeu a paciência e arrancou a máscara do personagem em um ato e fúria. Mesmo que Tob insista em dizer que aquilo “já passou”, sua reação ao relembrar o acontecimento deixa claro para quem assiste que aquilo deixou marcas permanentes.
Já Mike, conta sobre a vida que teve após o término do grupo, regada a drogas, sexo e ao gasto de dinheiro. Tudo isso enquanto Simony e Jairzinho tentavam seguir suas carreiras de cantores, que não durou muito tempo. O que nos leva às polêmicas em que a artista se envolveu depois de adulta, tendo seu ápice na rebelião do presídio Carandiru, onde ela esteve presente.
Não fosse suficiente, alguns dos relatos apresentados causaram surpresa até mesmo nos ex-integrantes do grupo infantil.
Simony posta (e apaga) vídeo descontente com alguns depoimentos da série
A cantora Simony usou suas redes sociais para falar sobre declarações de algumas das pessoas que foram mostradas na minissérie do Star+. Em seu desabafo, ela prometeu dar seu parecer sobre a série – o que faria posteriormente – e foi clara em dizer que ficou decepcionada com algumas falas. Ela usou o adjetivo “escrotas” para se referir a algumas pessoas.
Simony também citou um diretor por quem tinha imenso carinho, mas que não sabia sobre “coisas horríveis que ele fez”, por causa da proteção de sua mãe, que, ao que parece, poupava a filha de detalhes mais condenáveis. A cantora lamentou no vídeo a ausência dos tios e do avô, que não poderiam se defender pois já são falecidos. Por fim, ela se desculpou com o público.
Pouco tempo depois a postagem foi retirada de suas redes sociais e Simony não deixou claro quem foram as pessoas ou quais, exatamente, foram as declarações que a deixaram tão chateada.
Um desfecho emocionante para o Balão Mágico
Mesmo com todas as polêmicas, é inegável o valor afetivo que o Balão Mágico possui em nossas memórias e na memória cultural brasileira. Certamente o primeiro grupo infantil de grande sucesso nacional, ele figurou na infância e na vida adulta, seja daqueles que viveram a época, seja de quem, até hoje, frequenta festas que se baseiam na nostalgia da década de 1980.
O reencontro de seus ex-integrantes poderia ter se tornado uma grande “lavagem de roupa suja”. Mas, ao contrário, foi uma emocionante abundância de recordações engraçadas. Lembranças de um tempo da infância em que eles estiveram juntos e puderam viver aventuras divertidas em suas viagens. Para eles, muitas vezes, nem parecia trabalho.
O desfecho nos entrega emocionantes manifestações de carinho entre os 4 que, cobertos por lágrimas, encerram o encontro com um abraço coletivo. O quarteto, que não se reunia há, pelo menos, 20 anos, falou sobre a importância que cada um teve na vida um do outro e de como eles ainda são afetados sobre o que viveram nas suas infâncias.
Ainda que o grupo tenha durado apenas 3 anos, sua existência permanece nas nossas memórias até hoje, 4 décadas depois.