A série de streaming brasileira “Os Outros” (ou OSOUTROS, como é estilizada), produzida pelo Globoplay, tem conquistado uma audiência massiva e se firmado como um fenômeno de popularidade.
A primeira temporada da série estreou em 31 de maio de 2023 no Globoplay e rapidamente se tornou a mais assistida da plataforma, atraindo uma base de fãs fervorosos.
A recepção positiva do público levou à renovação para uma segunda temporada, mesmo antes do término da exibição da primeira.
O sucesso de “Os Outros” está sendo atribuído à sua narrativa envolvente, que explora os conflitos e as tensões presentes em uma sociedade polarizada, capturando a atenção dos espectadores desde o primeiro episódio.
Mesclando drama e suspense, a trama de Os Outros se desenrola na Barra da Tijuca, bairro nobre do Rio de Janeiro que tem atraído muitos novos condomínios e empreendimentos imobiliários.
A história de “Os Outros” gira em torno do embate entre dois casais de vizinhos: Wando (interpretado por Milhem Cortaz) e Mila (vivida por Maeve Jinkings), e Cibele (interpretada por Adriana Esteves) e Amâncio (interpretado por Thomás Aquino). Todos moram no condomínio Barra Diamond, gerido pela síndica Dona Lúcia (Drica Moraes).
A briga entre os filhos dos casais, Rogério (Paulo Mendes) e Marcinho (Antonio Haddad), desencadeia uma série de consequências absurdas. Paralelamente, um personagem misterioso chamado Sérgio (interpretado por Eduardo Sterblitch) se infiltra na situação, aproveitando-se da briga entre os vizinhos para obter vantagens pessoais.
damente se tornou a série mais assistida do Globoplay desde o seu lançamento. A segunda temporada está prevista para estrear em 2024.
Um antropologia dos condomínios fechados
Além de entreter o público, “Os Outros” também oferece uma oportunidade de análise e discussão sobre temas relevantes, como intolerância e a importância do diálogo nas relações humanas.
A narrativa intrincada e os personagens complexos despertam reflexões sobre a sociedade atual, suas contradições e as consequências de nossas ações.
Ao retratar pessoas de classe média que viram na mudança para bairros mais elitizados uma chance de fugir dos problemas comuns do Brasil, “Os Outros” revela a incoerência do princípio básico do funcionamento de um condomínio: a necessidade de manter “quem não faz parte” do “lado de fora”.
Segundo o psicanalista André Alves, essa linha de pensamento “produz um dos ingredientes mais fundamentais da vida em condomínio, que é a paranoia. Essa ideia de que o diferente é uma ameaça constante”.
É justamente por estarem tão imersos em um ambiente paranoico que os personagens têm tanta dificuldade em resolver seus conflitos. Como diz o crítico de cinema Matheus Sodré:
“Tudo isso é muito sufocante. Os conflitos violentos nos pequenos apartamentos, a música alta que invade as casas, as luzes frias e até a vida financeira dessas famílias em crise”.
Ao mesmo tempo, não ajuda o fato da síndica corrupta e a milícia se aproveitarem desses sentimentos negativos para ganhar dinheiro e perpetuar poder.
Ainda segundo Matheus: “Muito longe do centro e no limite da expansão horizontal da cidade, os condomínios são cercados por uma vegetação que cresce na ausência do poder público, produzindo ilhas removidas isoladas, de onde ninguém vai escutar as explosões dessas famílias que gritam”.
Por isso mesmo, o desenrolar da trama de “Os Outros” revela que as atitudes irresponsáveis dos personagens, que inicialmente impulsionam os conflitos, são apenas uma parte do problema. Ao longo da narrativa, torna-se evidente que essas brigas e crises persistem devido às instituições presentes no contexto em que essas pessoas estão inseridas, as quais não promovem uma cultura de paz.
Em contrapartida, é justamente o desejo de conexão, amor e o lado mais humano dessas pessoas que as permitem lutar contra esses interesses escusos.
A equipe de “Os Outros” é composta por:
“Os Outros” se destaca como um marco na produção brasileira muito por conta de suas performances marcantes. O elenco principal conta com:
- Adriana Esteves (Avenida Brasil, Amor de Mãe) como Cibele, a mãe super protetora de Marcinho.
- Eduardo Sterblitch (Pânico na TV, The Masked Singer) como Sérgio, chefe da milícia, que assume a gestão da segurança do condomínio.
- Thomás Aquino (Bacurau) como Amâncio, o pai de Marcinho, que sempre tenta evitar conflitos a qualquer custo.
- Antonio Haddad (Acqua Movie, Guigo Offline) como Marcinho, um menino tímido com dificuldades sociais.
- Maeve Jinkings (Boi Neon, Aquarius) como Mila, a mãe de Rogério, que vive um casamento disfuncional.
- Drica Moraes (Chocolate com Pimenta, O Cravo e a Rosa) como Dona Lúcia, a corrupta síndica do condomínio Barra Diamond.
- Milhem Cortaz (O Lobo Atrás da Porta, Assalto ao Banco Central) como Wando, o pai machista e violento de Rogério.
- Paulo Mendes (Amor Perfeito) como Rogério, um adolescente popular e violento.
- Gi Fernandes (passista da Mangueira) como Lorraine, a cativante e desbocada filha de Sérgio.
Criada e escrita por Lucas Paraizo, em colaboração com Fernanda Torres, Flavio Araujo, Pedro Riguetti, Bárbara Duvivier, Thiago Dottori e Bruno Ribeiro, “Os Outros” conta com direção de Luisa Lima em parceria com Lara Carmo.
Trilha sonora impecável
Além da trama envolvente, “Os Outros” também se destaca por sua trilha sonora, que contribui para a criação de uma atmosfera de suspense e tensão ao longo dos episódios.
A música tema de abertura, intitulada “Summer in G Minor, RV. 315: III. Presto”, é uma composição de Antonio Vivaldi, interpretada pela Camerata Bern. A escolha musical fornece uma força poderosa ao clima da série, reforçando a narrativa e criando uma experiência sensorial única para os espectadores.
Mas para além dessa escolha, os episódios contam com vários clássicos da MPB e hits do Funk Carioca dos anos 90. Algumas dessas canções refletem o enredo de maneira muito especial.
Por exemplo: A escolha de “Princesa”, do MC Marcinho, que mistura uma letra melodramática com as batidas alegres do Funk; exemplifica muito bem o funcionamento do romance entre o personagem Marcinho e Lorraine, que mantém um romance apaixonado a despeito do caos em que se encontram.
Ao final da série, a escolha dessa canção faz ainda mais sentido. Afinal, assim como na letra de MC Marcinho, um dos jovens apaixonados se foi.
Outras canções parecem ser um contraponto irônico ao enredo. “Folhetim”, canção romântica de Gal Costa, parece tocar nos momentos mais descabidos, como quando a síndica liga para sua filha, com quem não tem mais relações.
Gal Costa também é a dona de outro grande acerto da trilha sonora, mas isso falaremos mais adiante.
Eduardo Sterblitch surpreende com seu desempenho em Os Outros e recebe o apelido de “Miliciano Prateado”
Eduardo Sterblitch, conhecido por sua habilidade em interpretar personagens cômicos, surpreendeu muito o público com sua atuação em Os Outros. No papel de Sérgio, um ex-policial dissimulado, Sterblitch está recebendo elogios e reconhecimento pelo seu talento versátil.
Em uma entrevista recente ao Gshow, Sterblitch mencionou que os personagens de comédia sempre foram uma marca de sua carreira, mas interpretar Sérgio em Os Outros tem sido uma oportunidade de mostrar seu lado dramático e conquistar um público diversificado.
O sucesso da atuação de Sterblitch pode ser visto na forma como o público tem se referido a ele como “Miliciano Prateado”, em referência ao seu icônico personagem do programa “Pânico na TV”, Freddie Mercury Prateado.
A recepção positiva e os comentários entusiasmados do público demonstram o impacto que sua atuação está causando.
Enquanto desfruta do sucesso de Os Outros, Sterblitch também está olhando para o futuro de sua carreira. Ele revelou que tem projetos futuros, incluindo a interpretação de um vilão em “O Auto da Compadecida 2” e o papel do Diabo na adaptação de “Grande Sertão: Veredas” de Guel Arraes.
Referências a personagens de Adriana Esteves
No último episódio de Os Outros, os telespectadores foram presenteados com referências sutis a personagens icônicos interpretados por Adriana Esteves.
Nas redes sociais, os fãs tanto da atriz quanto da série não perderam a oportunidade de destacar as semelhanças entre Cibele, a personagem de Esteves em Os Outros, e Carminha, de Avenida Brasil, e Thelma, de Amor de Mãe.
Durante uma cena em que Cibele se muda do condomínio dentro de um caminhão, os observadores perceberam uma semelhança no ângulo da cena com o momento em que Carminha, em Avenida Brasil, é desmascarada e acaba no lixão, também pegando uma carona e proferindo a famosa frase que se tornou um meme: “Toca pro inferno, motorista“.
Além disso, na mesma cena em que Cibele está no caminhão, a música de fundo é “O que É que Há”, na voz de Gal Costa, que foi tema da personagem Thelma em Amor de Mãe. Essa referência musical também foi notada pelo público, que elogiou a sutileza com que ela foi inserida na trama.
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